domingo, 7 de abril de 2013

O Sapo...

Nos meses de Primavera há muita actividade no campo:

No pomar há que enxertar pereiras, macieiras, ameixeiras e cerejeiras. Até Maio pode ainda plantar-se citrinos (laranjeiras, limoeiros, tangerineiras, etc.) desde que se tenha em atenção que requerem muita rega. Na vinha é a época de terminar o arranjo das terras (lavrar), de combater o míldio e o oídio e de fazer enxertias.

Por todo o lado há que eliminar a erva que a chuva e a humidade do Inverno ajudaram, e muito, a crescer.

É altura de plantar batatas e couves; de adubar os morangueiros; de regar nos dias mais secos (nunca nas horas de maior calor); de semear abóbora, melão, tomate, nabo, pepino, pimento, ervilha, cebola, girassol.

E não esquecer o importantíssimo papel dos “guardiões da horta”, caso das joaninhas (grandes comedoras de pulgões nocivos) e dos sapos (esse animal considerado feio e que causa tanta repulsa). Tomara todo o hortelão ter um na sua horta ou jardim pois ele alimenta-se de insectos destruidores das culturas, prestando assim um secreto e inestimável serviço de prevenção à saúde dos vegetais, serviço esse absolutamente natural e gratuito.

Os sapos são da família Bufonidae e podem encontrar-se em quase todo o Mundo, pertencendo a cerca de 360 espécies, com tamanhos variáveis de 25 mm a 25 cm. Apesar da variedade de tamanhos e cores, todos têm um aspecto corpulento, pernas curtas, estão cobertos de verrugas e não têm dentes.
Normalmente escondem-se em buracos no solo durante o dia, de onde saem à noite para procurar alimento que capturam com a sua língua comprida e pegajosa.
Adaptam-se aos mais variados habitats: solo, água, árvores, dependendo da espécie. A sua reprodução é feita através da postura de ovos, podendo alguns sapos produzir milhares.

O sapo é um animal associado na crendice popular a maldições, bruxarias e veneno. A sua pele de facto segrega produtos desagradáveis, para sua defesa no caso de ser mordido por outro animal, mas ninguém fica envenenado por tocar num sapo, embora seja aconselhável lavar as mãos depois pois pode provocar uma pequena alergia se as mãos entrarem em contacto com os nossos olhos ou boca. Eu própria já peguei várias vezes em sapos (para observar melhor ou retirar da estrada) e nenhum mal me aconteceu.

São animais fascinantes, pacíficos e habitam este planeta há milhões de anos. É frequente, após uma grande chuvada a seguir a um período de seca, avistar muitos sapos atravessando estradas e campo. Há quem diga até que “choveram sapos”.
Trata-se apenas de um movimento migratório em busca dos locais de reprodução, após um período de hibernação.

Tendo nascido em Lisboa e vivido lá grande parte da minha vida, tive a sorte de ter avós no campo, e um avô que gostava de sapos. Tinha eu cerca de 6/7 anos uma noite, estando já deitada, fui por ele acordada para ver “uma coisa no quintal”. Saímos com uma lanterna e lá estava ele, castanho, gordo, de olhos brilhantes, debaixo das couves. O meu avô explicou-me que era um “ajudante fabuloso” a tratar da horta. Acho que foi a primeira vez que vi um sapo. Desde aí sempre o considerei um animal útil e injustamente maltratado. Espero que, ao escrever este texto, passe a mensagem e que as pessoas comecem a “ver o sapo com outros olhos”. Até porque é um animal sempre presente nas nossas vidas:
Tivemos os sapos dos contos de fadas que, quando eram beijados, se transformavam em príncipes; tivemos o Cocas dos “Marretas” na televisão e hoje temos o portal Sapo na internet.

Termino com um pequeno apontamento extraído do poema “O Sapo” escrito em 1911 pelo poeta Afonso Lopes Vieira e publicado no livro “Animais Nossos Amigos”:

“E ao pobre sapo, que é cheio de amor pela terra amiga, dizem-lhe muitos que é feio e há quem o mate e persiga!
E vendo, à noite, passar o sapo cheio de medo, as flores, para o consolar, chama-lhe lindo, em segredo...”

Ana Isabel Pinto

2 comentários:

Flamengo disse...

Confesso que tenho muito "nojo" desses bichos, mais ao ler esse artigo passei a ver eles (os sapos) com outra visão!
Belo artigo!!!

Flamengo disse...

Confesso que tenho muito "nojo" desses bichos, mais ao ler esse artigo passei a ver eles (os sapos) com outra visão!
Belo artigo!!!